domingo, 16 de outubro de 2011

Quem cutuca no Facebook quer namorar. É o que revela pesquisa.

Primeira pesquisa sobre paquera em redes sociais do país traça perfil dos internautas e revela o que ajuda (ou atrapalha) na azaração on-line




RIO - Inconsolável depois do fim de um namoro, o estudante José Rossoni Rodrigues, de 22 anos e natural de Roraima, foi a uma festa e tomou um porre daqueles. Na volta, sentado no banco do carro do irmão, começou o chororô:

- Ninguém me cutuca no Facebook! Ninguém me tucuta nem na internet, nem na vida real - dizia, em referência ao botão "cutucar", uma invenção (muito popular, diga-se) do Facebook.

Sem que ele percebesse, o irmão, Bruno, gravava tudo com a câmera do celular e, depois, mandou o desabafo para o YouTube . Isso foi em agosto e, em uma semana, o vídeo foi visto por mais de dois milhões de pessoas. O "ninguém me tucuta" virou um hit na internet. A página de Rossoni no Facebook, que até então não fazia o menor sucesso, passou a ser procurada por gente de todos os cantos e ele, a ser cutucado por milhares de meninas. Sua história mostra como as redes sociais estão assumindo uma importância fundamental no comportamento afetivo. Este foi o ponto de partida de uma pesquisa chamada Flertebook, feita pelas agências Blue Id e New Vegas, especializadas em tendências de comportamento. Foram ouvidos 905 usuários de redes sociais entre 18 e 35 anos (200 presencialmente, no Rio e em São Paulo, e 705 on-line, em todo o Brasil).

- Percebemos que muitas notícias no último ano relacionavam com frequência amor e redes sociais, sem que houvesse qualquer estatística sobre o fenômeno - diz Germano Penalva, coordenador da pesquisa, citando uma reportagem que dizia que "internautas encontram par romântico com mais facilidade".

Uma das primeiras conclusões da pesquisa é que pelo menos 48,2% das pessoas usam o Facebook para isso mesmo: azarar. É como passar o olho pelo local de trabalho e imaginar que metade das pessoas com a tela do Facebook aberta está ali... só paquerando. Mas antes de provocar pânico entre os leitores comprometidos, é bom lembrar que "conversar com os amigos" (88%), "compartilhar novidades" (74,2%) e "manter-se atualizado" (65,5%) são os objetivos mais citados.

Alguns resultados chamam a atenção: o tipo de perfil que faz mais sucesso no mundo azul-lavanda criado por Mark Zuckerberg não é o "sexy", o "popular", ou o "romântico", mas o "bem-humorado". Só não vale entupir a timeline dos seus amigos de virais e piadas. Segundo os pesquisadores, bem-humorado não quer dizer "engraçadinho".

- O perfil do "bem-humorado" é aquele que faz ironias nas horas certas, tem boas sacadas, mas, sobretudo, reage com leveza em discussões acaloradas. Todos os perfis se mostraram atraídos por essas características - diz Germano.

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Em relação às ferramentas do site, concluiu-se que a aflição de Rossoni, o abandonado de Porto Velho, não faz muito sentido: 55,3% das pessoas não cutucam com segundas intenções, mas apena para dar "oi". E 24,5% nunca cutucam de volta.

- É a função menos compreendida do site, porque ela não foi criada especificamente para o flerte - explica Germano. - O cutucar assumiu esta função aqui no Brasil, mesmo assim, não por todos.

A etiqueta do uso das ferramentas se mostrou uma filha do bom e velho bom-senso. A maior parte dos entrevistados relatou que o botão "curtir", quando usado moderadamente, aproxima, porque marca presença, reforça afinidades e demonstra aproximação. Mas, em excesso, repele a presa, pois conota previsibilidade e uma vontade exagerada de agradar. É o famoso "chiclete", em versão 2.0."Cutucar" e "curtir" nem sempre elas são usados para paquerar

De todas as ferramentas, os "comentários" são a porta da esperança de quem está à espreita: em geral elogiosos, são a chance de mostrar o tão caro bom-humor, diz o estudo. Os "chats" e as "mensagens" revelaram-se o espaço privado que muita gente não tem sequer na vida real, e são os preferidos para começar a paquera, usados por 75% dos ouvidos. A produtora cultural Rosa (nome fictício), de 35 anos, moradora do Humaitá, começou a usar a rede social para divulgar os eventos culturais que produz. Até que ficou solteira, há dois meses.

- Já paquerei duas pessoas via rede social e com os dois deu certo. O primeiro foi um rapaz que conhecia de uma livraria. Ele está morando na Espanha e, um belo dia, me adicionou. Começamos a trocar mensagens e a coisa foi ficando quente... - conta Rosa. - O segundo foi com um carinha que eu adicionei sei lá por quê. Ele passou a fazer comentários originais sobre minhas postagens, e um dia, no bate-papo, me convidou para um café, e acabou rolando no segundo encontro.

A história ilustra uma das conclusões da antropóloga Claudia Pereira, da PUC-Rio, que acompanhou todo o levantamento:

- O Facebook reforça laços sociais preexistentes. A rede social só existe porque está ancorada na vida offline - diz Claudia. - No Facebook, gostamos de nos sentir reconhecidos pelo que somos, por nossas idiossincrasias, gostos e preferências, por nossa autenticidade.

Ainda segundo a pesquisa, a intenção para a paquera começa na análise do perfil: 87,5% dos usuários são atraídos, primeiramente, pela foto principal. Mudar a imagem toda hora, aliás, é um indício de disponibilidade, o novo "passar a mão no cabelo". Cerca de 84% dos usuários acham fundamental que o perfil tenha o status de relacionamento (para saber se o outro é solteiro ou não); 66,6%, os locais que frequenta; e 65,8%, as preferências musicais.

- Uma das coisas que mais chamaram a atenção foi a importância que se dá à música e ao gosto musical do outro. Mais do que cinema ou viagens, por exemplo - comenta Germano. - A música, como se vê, é um fator determinante de afinidade.

Quem está azarando costuma desistir nas seguintes circunstâncias: falta de afinidade (28%), postagens de conteúdo considerado inadequado (28,3%) e quebra de expectativa (18%). O uso do mau português, os perfis excessivamente sexualizados, os comentários-clichês ou o excesso de aplicativos na página estão entre os principais fatores de rejeição.

- Não existe um Facebook, mas vários, considerando que diversidades culturais modificam a maneira com que a interação nesta rede social se estabelece - lembra Claudia. - A sociedade brasileira é relacional, brasileiros são conciliadores, afetuosos, generosos, e o compartilhamento de conteúdo nesta rede social é motivado pelo caráter gentil da nossa cultura. Na interação desta rede social, reproduzem-se valores e costumes tradicionais de nossa sociedade.

Uma última dica para manter a etiqueta no Facebook:



Fonte: O Globo

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